quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A descoberta do Casarão Rosa

Era uma vez, um conjunto de Prédios Amarelos. Não tão velhos, mas mal-acabados. Os jovens mais maluquinhos da cidade para lá eram mandados e mantidos ocupados. Mas, como todos eram maluquinhos, ser assim era normal. Depois de alguns anos, eles se formavam na maluquice e eram estimulados a irem para lugares onde haviam malucos parecidos com eles em suas maluquices.
Uma vez, um deles foi para o Casarão Rosa. Lá, havia malucos vindos de todos os cantos, com maluquices que combinavam com a dele.
No Casarão Rosa, a maluquice parecia mais contagiosa que gripe. Mesmo quem chegava não sendo tão maluco assim, acabava ficando meio maluquinho depois de um tempo.
Então, aquele maluquinho, que foi dos Prédios Amarelos para o Casarão Rosa descobriu que ser maluco era mais comum do que as pessoas normais faziam parecer. E que a maluquice era a melhor forma de se prevenir da Loucura.
E os ditos normais estavam ficando cada vez mais loucos.
E os malucos é que eram felizes.
E viveram felizes para sempre.
Fim.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Posse

MEU namorado
MEU amor
MINHA filha
MINHA família
MEU emprego
MINHA faculdade
MEU professor
MINHA sala
MEU quarto
MINHA música
MEU texto
MINHA vida
Quando as pessoas vão entender
que não se possui nada?
Que nem ao que lhes diz respeito
se tem posse?
Meu, nem o futuro é.

Quem ligou o ar-condicionado?

Não faz frio no Rio. É 'Rio 50 graus' (porque 40 é pouco) em pleno inverno.
Mas, num dia de primavera, alguém ligou o ar-condicionado em cima da cidade e seus arredores.
E com vento gelado direcional.
Parecia que o Rio tinha se travestido de São Paulo.
Tudo cinza e chuvoso.
As pessoas andavam apressadas, olhando para baixo e carregando guarda-chuvas.
A diferença é que os homens não andavam com jaquetas de couro ou sobretudos, mas com algumas camisas sobrepostas.
As mulheres, antes de sair de casa, procuraram seus lenços e casacos perdidos no fundo do armário.
Não me leve a mal. Amo São Paulo e seu cinza.
Mas isso não combina com o Rio.

No fim da tarde, não tinha nenhuma churrasqueira acesa na esquina.
Poucos eram os que enfrentavam o vento de cabeça erguida.
Ao menos, à noite, quase todos estariam no aconchego de seus lares.
Era noite de futebol.
E mesmo quem não gosta, se meteria nas cobertas e brincaria de inverno, enquanto, secretamente, torcia para que no dia seguinte, desligassem o ar-condicionado
e o Rio fosse de Janeiro outra vez.